segunda-feira, 15 de outubro de 2012

FALTA DE PROFESSORES DE EXATAS






Pesquisas na área educacional divulgam a escassez de professores para o exercício do magistério. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) constatou um grande desequilíbrio entre a demanda por professores e o número existente de habilitados. O Ministério da Educação (MEC) informou, em maio deste ano, que no ensino médio e no 2.º ciclo do ensino básico, de 5.ª à 8.ª série, há uma carência de 250 mil professores com nível superior.
As pesquisas mostraram, também, que a falta de professores qualificados é mais grave nas áreas de ciências exatas. O Brasil, pelo levantamento do Inep, precisaria hoje de 55 mil professores de Física e de Química. Entre 1990 e 2001, formaram-se em cursos de licenciatura em Física 7.216 professores e em Química 13.559, um número maior, mas ainda distante das necessidades das escolas. Não havendo professores com a formação específica, atribuem-se as aulas, em caráter excepcional, a formandos em Pedagogia. Na disciplina Matemática, a situação de precariedade é grande. A Secretaria da Educação informou que, em 2001, apenas 12.600 professores, dos 36 mil, eram habilitados, tinham bacharelado e licenciatura em Matemática.
A falta de professores licenciados em ciências exatas, especialmente no ensino médio, tem trazido, como resultado, o que se denomina de “analfabetos tecnológicos”. Trabalhos têm mostrado que o estudo da ciência leva a um raciocínio mais desenvolvido, a um melhor desenvolvimento cognitivo, à curiosidade científica, ao gosto pela pesquisa nessa área. A distorção provocada por essa ausência dificulta o desenvolvimento do aluno, trazendo um menor desenvolvimento para o País. As vocações para a ciência são pouco despertadas. A deficiência em Matemática agrava-se pela enorme quantidade de ocupações que dependem de conhecimentos de informática, conhecimentos que se desenvolvem mais facilmente quando as bases do raciocínio matemático estão alicerçadas.
Constata-se uma evasão de professores de Física e Matemática para o mercado financeiro, de Química e Biologia para áreas de proteção ambiental das empresas e mesmo nas ONGs, por causa dos melhores salários e melhores condições de trabalho.
Na rede pública, a maioria dos professores de ciências exatas não domina os conceitos básicos de sua matéria. Essa situação vem de longa data, piorando a cada ano. Estudos realizados pelo Instituto de Química da USP, no ano de 1997, ao analisar laboratórios de 3.740 escolas estaduais, concluíram pela inutilidade de sua existência, constatando ser ilusório incentivar aulas de laboratório na grande maioria das escolas estaduais. “Com raríssimas exceções, as salas não têm condições físicas para acolher os alunos e, o mais importante, faltam professores especializados para organizar os laboratórios”.
A professora Reiko Isuyama, que coordenou a avaliação, afirmou que há casos de extrema periculosidade. “Foram encontrados ácidos concentrados, solventes cancerígenos e frascos de sódio metálico, substância que pode explodir em contato com a água e atingir, por exemplo, um funcionário durante a limpeza da sala”. O relatório revela que do jeito que está é melhor fechar os laboratórios, “é inútil fornecer reagentes e vidrarias se os professores não sabem utilizá-los”.
Não se pode deixar a educação básica à mercê de si mesma. São constantes os apelos para que haja uma integração real entre as universidades e o ensino médio, de um modo especial. Apelos para que se criem mecanismos de vínculos entre as universidades e o ensino público, assessorando, estimulando o conhecimento, ajudando na formação docente, fator preponderante no desempenho positivo do aluno.
Aristóteles, 400 anos Antes de Cristo, já alertava a humanidade: “Todos que têm militado na arte de governar o gênero humano acabam por se convencer que a sorte dos impérios depende da educação da mocidade”.
Alertas não têm faltado à prática da boa educação, mas a escola, há muito, não é tida como prioridade nacional, tanto que hoje presenciamos um grande processo de incorporação ao magistério  de  novos  segmentos  sociais. Se antes a classe média e a média alta mandavam seus filhos, de preferência suas filhas, para abraçar a carreira de professor, hoje, o que temos, segundo pesquisas do Censo, são profissionais advindos de lares de baixa renda, de pais de baixa escolaridade, com uma baixa estrutura cultural. A isso acresce-se o deficiente ensino público, recebido por este novo segmento.
Os baixos salários, as condições precárias de ensino desestimulam a busca do magistério. Procuram-no, geralmente, quem não tem outra opção. Fazer a educação pública brasileira avançar é um exercício de liderança governamental, de vontade política, capaz de revolucionar e modernizar o sistema educacional, quebrar a corrente do faz-de-conta, assistindo-a técnica e financeiramente de modo eficaz.
A falta de professores constatada não é senão conseqüência do abandono, do discurso da prática vazia, da democracia no solar da demagogia. Há anos que vimos escrevendo sobre o descuido intelectual e institucional voltado à educação; há anos que vimos reclamando melhores condições de trabalho, melhores salários aos professores. Essa longa situação de penúria, em relação ao magistério, redundou em desânimo para essa carreira, acompanhado da má qualidade de todo o ensino público da educação básica. Revelou o frisante desprezo crônico de décadas a fio, refletindo a falta de compromisso, de responsabilidade governamental de levar educação de qualidade às classes menos favorecidas da população brasileira. Nesse abandono da escola e dos professores, o que ocorreu, realmente, foi uma discriminação de direitos às camadas de menor poder aquisitivo, às diferentes etnias brasileiras.

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