terça-feira, 24 de julho de 2012

Operadoras oferecem mais linhas do que suportam, diz especialista



A má qualidade dos serviços das operadoras de celulares pode estar ligada ao mesmo motivo que as fazem lucrar com o marketing do ranking das maiores e mais vendidas: o excesso de vendas de chips. Muitas destas "linhas" de celulares, segundo Thiago Nunes da Costa, há tempos não funcionam: estão mudas. Técnico na área especialista no assunto há dez anos, e diretor da consultoria Evolucomm, Costa calcula que 15% das linhas existentes no País são silenciosas. De acordo com a Anatel, o Brasil possui 256 milhões de linhas, o que contabiliza pelo menos 38 milhões de chips silenciosos, pelos cálculos e informações que ele detém.

Segundo ele, se todos estes chips fossem utilizados pelos seus proprietários, a rede de celulares entraria em colapso: "aí sim, seria o caos. Hoje ainda estamos distante desta situação. Não existe infraestrutura para absorver a quantidade de linhas que eles disponibilizam", enfatiza. Nas suas explicações, as próprias operadoras contam que 15% dos chips não serão utilizados: "elas colocam à venda uma quantidade maior".

A Anatel diz desconhecer a existência de chips mudos. Lembra, inclusive, que a lei determina que para ativar um chip as empresas pagam uma taxa de R$ 26,83. A manutenção dessa "linha" custa 50% do valor de instalação. Estes valores, segundo Costa, não assustam as empresas. Elas os compensam através da tarifa VU-M, que recebem cada vez que uma ligação é feita para a sua "linha". Ou seja, os celulares pré-pagos, por exemplo, já rendem mesmo sem falarem, apenas recebendo chamadas.

"Funciona assim: a operadora que recebe o telefonema ganha cerca de R$ 0,54 por minuto, que são pagos pelo operadora que faz a ligação. Vale muito a pena ter uma grande parcela de clientes pré-pagos, pois estes são aqueles que mais recebem ligações, o que aumenta a arrecadação destas empresas, compensando o pagamento dos chips silenciosos", explicou ao Terra.

A Anatel exige a "limpeza da base de clientes inativos" anualmente. Mas, segundo Costa, este tipo de descredenciamento de clientes não interessa às operadoras. "Estes números aumentam a carta de clientes, que é utilizada em diversas estratégias de marketing das companhias", diz. Outro exemplo de marketing é a atração por clientes pré-pagos com a estratégia de ligações ilimitadas para a própria operadora e Internet ilimitada a R$0,50 por dia, que elas estão ofertando na disputa por clientes. O ganho fica nas ligações recebidas por estes aparelhos quando partem de outras operadoras.

O especialista ainda alerta sobre outros números, como a necessidade de se fazer uma ligação de 5 a 10 minutos para a ativação dos chips de pessoa jurídica, o que já compensa os valores pagos à Anatel. "Os vendedores sempre oferecem chips de graça para uma empresa que faz a compra de uma conta grande, pois eles vão lucrar muito com a recepção das ligações destas linhas extras", adverte.




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