Muitos estudantes optam pela docência não por vocação, mas pela facilidade de ingressar no ensino superior
A maioria dos alunos prefere a disciplina de Lúcia Beltrão
Devoção, amor e vocação. A professora Lúcia Beltrão, de 69 anos, resume em três palavras o que significa a profissão que escolheu há 44 anos. Formada em pedagogia, ela ensina matemática para uma turma de 6a série na Escola Estadual Amaury de Medeiros, em Afogados, Zona Oeste do Recife, e não se arrepende de haver voltado à sala de aula após sete anos de aposentada. "Se eu tivesse de nascer de novo, eu seria professora", diz. No entanto o exemplo de tia Lúcia, como alguns alunos a chamam, é cada vez mais raro. Pesquisa do Nova Escola de março deste ano realizada entre alunos de escolas públicas e particulares do País mostra que somente 2% dos jovens brasileiros querem ser professores.
Um outro dado grave foi divulgado pelo Exame Nacional do Ensino Médio Enem no ano passado. Os candidatos a professores no País tinham baixa renda familiar e tiraram nota 20 na prova, numa escala que varia de 0 a 100. Significa que são estudantes com poucas chances de acesso a livros e informações e que, possivelmente, carregam sérios problemas de formação desde o ensino básico.
Superando todas essas dificuldades, a professora Lúcia dá a receita para desempenhar bem sua missão de educar: "No momento que alguém assume o papel do professor é porque está disposto a trabalhar por aquela causa. Porque se a gente for pensar na parte negativa, de desvalorização e baixos salários, ninguém entrava em sala de aula".
A opinião de Aline Lourenço que assumiu a turma de quarta série da Escola Municipal Renato Campos, no Alto do Jardim Progresso, em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, confirma a da colega. "É preciso gostar do que se faz; se você não ama, fica mais difícil", disse. Da mesma forma, Norberta Salvino, da Escola Municipal de Tejipió, na Zona Oeste da capital pernambucana, acrescentou:
"Se a gente for pensar em desvalorização, a gente nem sai de casa. Eu me realizo aqui [na escola], mas não é fácil".
"Se a gente for pensar em desvalorização, a gente nem sai de casa. Eu me realizo aqui [na escola], mas não é fácil".
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