sábado, 14 de julho de 2012

Greve faz alunos da rede estadual desistirem do Enem

Estudantes estão preocupados com os prazos e desestimulados para enfrentar a maratona dos 77 dias úteis restantes até o Enem







De um lado, a greve dos professores estaduais que, mesmo com intermediação do Ministério Público, se arrasta e completa hoje 95 dias. Do outro, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que se aproxima (3 e 4 de novembro) e este ano vai valer como a 1ª fase do vestibular da Universidade Federal da Bahia (Ufba). 

No meio, espremidos pelo calendário, estudantes do 3º ano da rede estadual preocupados com os prazos e desestimulados para enfrentar a maratona dos 77 dias úteis restantes até o Enem.
Diante dos prazos apertados e da deficiência do ensino, apontada pelos próprios estudantes, alguns  já desistiram até de fazer a Ufba este ano. É o caso do estudante Anderson da Conceição, 17 anos, que cursa o 3º ano no colégio estadual Marquês de Maricá, no Pau Miúdo. 

A unidade de ensino está entre os 19 colégios-polo criados pela Secretaria Estadual da Educação (SEC) para que as aulas do 3º ano fossem retomadas, mesmo sem o fim da greve dos professores. O objetivo é tentar diminuir o prejuízo dos estudantes que vão prestar vestibular e fazer o Enem.



Apesar das aulas, a vontade de se tornar um advogado, segundo o estudante, vai ser adiada por pelo menos um ano. “Com essa greve está complicado. Os assuntos não estão sendo dados como deveria. Eles querem dar reforço para o Enem, mas não tem qualidade. Tive que adiar meu sonho. Eu fico mal, revoltado”, desabafa o estudante. “Eu queria fazer Direito na Ufba. Tenho vocação, mas as aulas não estão valendo a pena”. 

Os planos para cursar Direito, segundo o estudante, só serão colocados em prática em 2013, quando pretende se matricular em um cursinho pré-vestibular. Enquanto ainda frequenta as aulas, o estudante procura por um emprego. “Se depender do governo, eu não vou estudar. É melhor trabalhar. Tem  assunto necessário para o Enem que eu estou ‘viajando’”

Planos adiados 
Já a estudante do Colégio Estadual Davi Mendes Pereira, em Colinas de Pituaçu, Roberta Cordeiro, 15 anos, também queria fazer Direito, mas com o objetivo de se tornar uma juíza. Assim como Anderson, ela também optou por adiar os planos. “É um sonho que tenho desde pequena, mas está tendo muita aula vaga e faltando professor. Eles estão pegando assunto do fundamental para o 3º ano. Conversei com minha mãe e disse que não tinha capacidade ”. 

Por dificuldades financeiras, ela não conseguiu se matricular em um pré-vestibular. “Bate uma tristeza, porque a gente fica correndo atrás do futuro e não consegue. Este ano para mim já está perdido. Agora só ano que vem”, conta a estudante, que começou a estudar muito nova e por isso está adiantada. 

A  Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) informa que monitora o funcionamento das escolas e que “ajustes pontuais estão sendo realizados em algumas das 19 escolas-polo para assegurar as aulas para todos os estudantes”. 

A ação de volta às aulas do 3º ano do ensino médio em Salvador foi iniciada no dia 25 de julho e, segundo a SEC, visa atender 22 mil estudantes concluintes do 3º ano do ensino médio e do 4º ano da Educação Profissional Integrada.

Sobre as críticas feitas por estudantes, a SEC destaca ainda que os professores convocados têm formação em licenciatura plena e que “estão habilitados a abordar assuntos do 3º ano”. “Inicialmente, os professores realizaram uma revisão dos conteúdos que já foram trabalhados para dar continuidade aos assuntos do ponto em que eles foram interrompidos”.



Não desistir 
Especialistas em  Educação, no entanto, alertam que desistir dos exames não é uma boa opção, mesmo com os prejuízos decorrentes da greve. Estudante do Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes, Bianca Franco, 17, procurou auxílio em um cursinho pré-vestibular para tentar uma vaga no curso de Administração da Ufba. 

“A gente só tem aula segundas, terças e quartas. Não está servindo para nada. Só tenho aula de física, biologia e filosofia. Não tem nem português e matemática”, reclama.

“Não me sinto preparada. O que está me ajudando é o cursinho porque, se dependesse da escola, não teria como. Eu me sinto excluída por ter que concorrer com estudantes de escola particular que têm aulas todos os dias”, diz ela.

Além do cursinho, Bianca ainda participa de estudos em grupo, junto com a colega Uly Gonzaga, 17, que pretende ser arquiteta. “As aulas do colégio não têm conteúdo para tentar uma vaga em universidade pública como a Ufba. Temos que correr por conta própria”, acrescenta a futura arquiteta.
Alunos da rede municipal também são prejudicados
Cerca de 1.845 alunos do 9º ano (antiga 8ª série)  que vão migrar para escolas da rede estadual e parte dos 20.748 do 5º ano podem ser prejudicados pela greve dos professores, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Secult).

Com a previsão de que as aulas do estado se estendam até 2013, a preocupação é que os alunos da rede municipal que estão com o calendário letivo em dia e vão concluir em dezembro só devem começar as aulas em maio. O secretário João Carlos Bacelar estima que os reflexos poderão ser sentidos até 2015. 

“O aluno que concluir o nono ano do ensino fundamental em dezembro de 2012 provavelmente só terá acesso à escola da rede estadual em maio de 2013. Certamente vai haver evasão escolar”. Além dos alunos do 9º ano, a Secult estima que pode haver prejuízo também para alunos do 5º ano. A rede só tem capacidade para abrigar 15% dos mais de 20 mil que vão passar para o 6º ano e a maioria tem que migrar para a rede estadual.

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