sábado, 28 de abril de 2012

Apenas 2% dos jovens querem ser professores no Brasil

Muitos estudantes optam pela docência não por vocação, mas pela facilidade de ingressar no ensino superior


                A maioria dos alunos prefere a disciplina de Lúcia Beltrão
Devoção, amor e vocação. A professora Lúcia Beltrão, de 69 anos, resume em três palavras o que significa a profissão que escolheu há 44 anos. Formada em pedagogia, ela ensina matemática para uma turma de 6a série na Escola Estadual Amaury de Medeiros, em Afogados, Zona Oeste do Recife, e não se arrepende de haver voltado à sala de aula após sete anos de aposentada. "Se eu tivesse de nascer de novo, eu seria professora", diz. No entanto o exemplo de tia Lúcia, como alguns alunos a chamam, é cada vez mais raro. Pesquisa do Nova Escola de março deste ano realizada entre alunos de escolas públicas e particulares do País mostra que somente 2% dos jovens brasileiros querem ser professores.

A atenção dos quase trinta meninos e meninas para a aula de expressões numéricas demonstra que Lúcia Beltrão consegue cativar a turma. "Quando eles bagunçam, eu paro a aula, mas aqui é como jogo de futebol, tem prorrogação na hora do recreio", brinca. No início do ano, ela separou os dez meninos mais adiantados e os dez mais "atrasados". Os primeiros monitoravam o segundo grupo. No dia da prova, "todos tiraram nota azul", comemora. "Se um professor é bom, a gente é bom. Se o professor é ruim, a gente é ruim", confessa o estudante Everton Vanellis, de 13 anos, aluno de Lúcia, demonstrando o papel fundamental que o professor tem de estimular a aprendizagem do aluno. A matéria preferida dele? Matemática. A didática da professora funciona e hoje a maioria da classe gosta da disciplina.

Muitos alunos optam pela docência não por vocação, mas pela facilidade de ingressar no ensino superior. De fato, os cursos de licenciatura são os que exigem menor nota e têm menor concorrência para ingresso nas universidades. Na Federal de Pernambuco, em 2009, um fera com 3,29 pode ser um futuro professor de matemática, enquanto, para ser médico, seria necessário conquistar, no mínimo, 8,29.
Um outro dado grave foi divulgado pelo Exame Nacional do Ensino Médio Enem no ano passado. Os candidatos a professores no País tinham baixa renda familiar e tiraram nota 20 na prova, numa escala que varia de 0 a 100. Significa que são estudantes com poucas chances de acesso a livros e informações e que, possivelmente, carregam sérios problemas de formação desde o ensino básico.
Superando todas essas dificuldades, a professora Lúcia dá a receita para desempenhar bem sua missão de educar: "No momento que alguém assume o papel do professor é porque está disposto a trabalhar por aquela causa. Porque se a gente for pensar na parte negativa, de desvalorização e baixos salários, ninguém entrava em sala de aula".
A opinião de Aline Lourenço que assumiu a turma de quarta série da Escola Municipal Renato Campos, no Alto do Jardim Progresso, em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, confirma a da colega. "É preciso gostar do que se faz; se você não ama, fica mais difícil", disse. Da mesma forma, Norberta Salvino, da Escola Municipal de Tejipió, na Zona Oeste da capital pernambucana, acrescentou:
"Se a gente for pensar em desvalorização, a gente nem sai de casa. Eu me realizo aqui [na escola], mas não é fácil".

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