terça-feira, 24 de maio de 2011

Novelas longuíssimas

Como já observou Artur Xexéo em sua coluna, os capítulos das novelas estão cada vez mais longos. A explicação é matemática (da categoria financeira), não resultado de uma necessidade dramatúrgica. Na última quinta-feira, por exemplo, “Insensato coração” começou às 21h23m e só acabou às 22h41m. Neste dia, a audiência média foi de 37 pontos. É bem mais que o dobro da soma do obtido por todas outras emissoras no horário (Record, seis; SBT, sete, RedeTV! e Band, dois). O folhetim das 21h, grande carro-chefe da Globo, puxa a audiência noturna para cima. Quando o capítulo acaba, os números declinam imediatamente. Será que alguém mexeria nesta fórmula vitoriosa?

Os autores precisam inventar muito para manter em movimento histórias de mais de uma hora de exibição seis dias na semana por 180 capítulos. A tarefa não é bolinho. O tamanho tem uma influência direta e inevitável no conteúdo. É necessário criar tramas paralelas, sob pena de haver “barrigas” dentro de um capítulo, não apenas no folhetim como um todo. É preciso fazer isso sem apresentar todos os trunfos antes do terço final. No caso das 21h, a responsabilidade é ainda maior, com um público mais atento, que exige uma história coerente. Isso não acontece às 19h, quando a comédia se impõe, o que abre a porta para inconsistências nas tramas. Nas outras emissoras, a situação é ainda pior: além dos capítulos longos, há produções enormes. Marcílio Moraes escreveu “Ribeirão do Tempo”, na Record, por um ano. Todos pedem novelas mais curtas, como Lauro César Muniz, também da Record, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”. Faz sentido. Com capítulos longos e muitos meses do ar, trabalhar com este formato seria uma missão difícil até para Sherazade.

Tantas discussões só mostram que o gênero está muito vivo. E, certamente, em processo de adaptação a um espectador que cobra uma história lógica, não tolera velocidade de cruzeiro e tem a atenção dividida entre o controle remoto e as outras mídias. A novela está buscando se reinventar.

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